terça-feira, 27 de setembro de 2011

CRÔNICAS

A leitura é base do assunto e do estilo


Está na leitura a base do bem pensar, falar e escrever. Em todos os tempos e lugares, inclusive nos tempos e lugares da Informática, Internet e de outros tantos inventos que estão vindo e que haveremos de conhecer e usar, não há como a leitura para o domínio do que antes se disse. A leitura oferece, em mananciais inesgotáveis, os saberes e os estilos para o bem pensar, falar e escrever. O bom pensar, a boa fala e a boa escrita tiveram, têm e terão a base número um na leitura e não nesses modernos e ultramodernos meios de comunicação que existem e que existirão.

Elvo Clemente, marista, doutor em Letras, professor na PUCRS e acadêmico em Porto Alegre, escreveu no Correio do Povo o artigo “Leitura: Redação...” Nesse artigo, escrito antes da Informática e da Internet, ou seja, no dia 31 de agosto de 1977, além de outros ensinos mais que duram até hoje, encontram-se estes: “A leitura é a chave das línguas falada e escrita. Tanta gente fica aí diante de outros sem saber o que dizer, pois não têm leitura! Aquilo que eles vêem na televisão ou nas histórias em quadrinhos, tudo é visual, superficial, não penetra no mundo interior. Não dá assunto para falar”. Não dá assunto, tripartindo esse falar, para pensar, falar e escrever.

E no Caderno de Sábado do Correio do Povo do dia 6 de agosto de 1977, Mário Quintana escreveu dezenas de linhas cheias de ensinamentos duradouros. Dessas linhas, transcrevem-se estas: “Sim, havia aulas de leitura naquele tempo. E como a gente aprende a escrever lendo, da mesma forma que aprende a falar ouvindo, o resultado era que - quando necessário escrever um bilhete, uma carta - nós, os meninos, o fazíamos naturalmente, ao contrário de muito barbadão de hoje.” É ele, o poeta gaúcho, quem fala: a gente aprende a escrever lendo... O gerúndio lendo, uma vez partido em três, diz que a gente, lendo, aprende a bem pensar, falar e escrever.

Aprender fazendo

Professor de Lingüística e de Língua Portuguesa na URI de Santo Ângelo, Dálcio Malmann não se cansava de repetir nas aulas esta grande e imorredoura lição: Se a gente quiser aprender a falar, tem que falar, se quiser aprender a escrever, tem que escrever, se quiser aprender qualquer coisa, tem que fazer essa coisa. Não há outro jeito.”

 De fato, assim como se aprende a nadar nadando, a jogar jogando, a surfar surfando, a andar de motocicleta andando, a amar amando, a namorar namorando, a ler lendo, assim também se aprende a pensar pensando, a falar falando e a escrever escrevendo. Quanto mais se treina, isto é, quanto mais se nada, joga, surfa, anda, ama, namora e lê, tanto mais se aprende a nadar, jogar, surfar, andar, amar, namorar e ler. E quanto mais se pensa, se fala e se escreve, tanto mais se aprende a pensar, a falar e a escrever. Também aqui quantidade é qualidade.

Pessoas que bem pensam sabem que o pensar, falar e escrever, mais ainda, que o bem pensar, falar e escrever têm base na leitura. É a leitura que dá o saber, a cultura, o assunto, o “café no bule”. E dá, também, ao mesmo tempo, o jeito melhor de dizer o saber, a cultura, o assunto, o “café no bule”, isto é, o estilo. Na leitura, pois, se adquire a ciência e a arte, o conteúdo e a forma, o assunto e o estilo, ou seja, as idéias e as maneiras de dizê-las pela fala e pela escrita.

Pensar, falar e escrever bem é uma ciência e uma arte. Todos podem adquiri-las. Mas essa ciência e essa arte demandam disciplina, organização, esforço permanente e ininterrupto. Sólida e sempre atualizada bagagem cultural, bem como o domínio da ciência e da arte do bem pensar, falar e escrever, conquistam, junto com outros quesitos e valores humanos, os mais altos conceitos nas avaliações sociais e profissionais. Inclusive nas dos órgãos avaliadores, privados e oficiais. E são, também, verdadeiros cartões de visitas. Há farturas de livros nas bibliotecas municipais, escolares, universitárias. É nos livros que se encontram as inesgotáveis fontes de realidades e de sonhos que dão assuntos e jeitos para a sempre aperfeiçoável ciência e arte do bem pensar, falar e escrever.
 Isto posto, convém ainda dizer que a receita maior e melhor de se pensar bem tudo o que se pensa, de falar bem tudo o que fala e de escrever bem tudo o que se escreve é pensar bem tudo o que se pensa, falar bem tudo o que se fala e escrever bem tudo o que se escreve. É, no fundo, pensar e pensar, falar e falar, escrever e escrever, ler e ler. É, enfim, unir sempre, durante a vida toda, teoria e prática. O ensino dessa receita, até mesmo o didático-pedagógico, está na leitura. Pois a leitura dá, além de tudo mais, assunto e estilo.

Artur Hamerski,
professor, Santo Ângelo - RS - por correio eletrônico


 

 

 

 

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